Naquela praia deserta, ela era um pequeno pedaço de mundo. Parte
integrante do universo. A extensão da natureza em todo o seu esplendor, como o
sol ou como a lua, ou como o vento que embala as marés. Ali era ela,
verdadeiramente, tal como a natureza a fizera. Desenfreada, desregrada, a
desafiar os amantes que lhe caíam aos pés. Doava-se sem medo nem pudor.
Mas não se doava gratuitamente, não. Tudo na vida tem um
custo, e ela nascera do vento e da tempestade. Diziam-lhe! Que ela não se
lembrava de que ventre brotara. Para ela fazia mais sentido ser filha da terra
e do mar, eles, os eternos amantes deste mundo e do outro. Ora longe, ora
perto, doando-se em intensas ondas de paixão. Qual, fogo e gelo, que lhe
percorrem as entranhas em cada madrugada, que bebe o sangue dos homens que
seduz. Ou lhe oferece o licor dos Deuses em cálices de prazer.
Ela, mulher poema, enaltecida ou censurada pelo mesmo lápis
que lhe dá e retira a dignidade. Ela, a Deusa. Ela, a filha de satanás.
Demoníaca, feiticeira, rainha e plebeia que encanta e seduz.