Termina assim, este primeiro dia
de um verão que chega incerto. As ondas beijam-me os pés e o sol já toca o mar.
Só os gritos das gaivotas ecoam na praia deserta… e a minha imensa saudade.
Saudade de ti, do teu sorriso, do teu olhar preso ao meu, do teu corpo
envolvendo-me com paixão. Parece que passou uma eternidade mas na realidade
ainda ontem nos encontrámos depois de tantos anos sem nos vermos. Sinto na
minha alma uma inquietude latejante. Medo, sei lá… medo que voltes a partir. Tu
disseste que vinhas para ficar mas o destino é imprevisível e eu não sei se a
minha vida aguenta até à próxima vez.
Vejo-te ao longe. Caminhas, em
passos serenos, ao meu encontro. Continuas com o mesmo jeito de andar, esse
charme tão másculo que sempre me deixou com os sentidos inebriados à espera de
mais. Do teu corpo quente que me extasiava com prazer. Quero correr ao teu
encontro mas permaneço estática, tremem-me as pernas. Digo que talvez seja da
brisa marítima que começa a refrescar o lusco-fusco. Que o dia já não tarda a
dar lugar à noite. E tu aconchegas-me contra o teu peito no abraço que surgiu
tão natural. Sinto o teu coração e tenho a certeza que também sentes o meu, as
tuas mãos que acariciam a maciez da minha pele, o magnetismo que nos leva para longe
no tempo. Uma data intemporal que não se mede em dias nem horas.
Os teus dedos, poro por poro,
desatam os nós da minha pele e o meu corpo resplandece ao luar. Nudez plena que
te ofereço sem pudor, calmamente com a certeza de um querer renascente que
nunca nos deixou. Agitam-se as entranhas das ondas que nos molham os pés,
estrelas cadentes incendeiam o mar e espargem-se cânticos no ar… e depois uma
canção de ninar.